Uso de bicarbonato na acidose respiratória e metabólica
O uso do bicarbonato na acidose metabólica sempre foi um tema cercado de controvérsia. Com o BICAR-ICU, ensaio clínico randomizado e multicêntrico publicado no The Lancet em 2018, passamos a ter indicação de uso do BIC.
No post de hoje, iremos falar melhor sobre BICAR-ICU e seus resultados. Continue acompanhando para saber mais!
O estudo avaliou a infusão de bicarbonato de sódio em pacientes graves com acidose metabólica com componente renal associado.
Foram incluídos pacientes adultos internados em UTI com choque e acidose grave (pH ≤ 7,20, PaCO2 ≤ 45 mm Hg e bicarbonato sérico ≤20 mmol / L).
Pacientes sépticos com lesão renal aguda (Acute Kidney Injury Network score de 2 ou 3) e as características acima tiveram benefício com o uso do bicarbonato. Além da redução de mortalidade nesse grupo, a sobrevida e os dias livres de terapia de substituição renal foram maiores.
Limitação do estudo
O protocolo não usou o cálculo do déficit de base para fornecer uma quantidade sob medida para infusão de bicarbonato, sugerindo um volume de bicarbonato de sódio 4,2% de 125–250 ml por infusão.
Os resultados positivos obtidos foram num subgrupo de pacientes, o que os torna mais sujeitos a vieses.
Mais estudos randomizados e multicêntricos devem ser feitos para investigar se a infusão de bicarbonato pode de fato melhorar os desfechos clínicos.
E na acidose respiratória? Usar bicarbonato?
Se, no contexto de uma acidose metabólica, ainda há controvérsias, na respiratória, não há evidências. Pacientes com SARA comumente apresentam hipercapnia como resultado da estratégia protetora.
O bicarbonato de sódio é quase sempre contraindicado, por causa do potencial de acidose paradoxal (intracelular).
Uma exceção pode ocorrer nos casos de broncoespasmo grave, nos quais o bicarbonato pode melhorar a resposta da musculatura lisa dos brônquios aos agonistas beta. Outra situação em que se pode considerar o uso do BIC é no caso do paciente em ventilação protetora que mantém pH<7,15.
O estudo ARDSNET sugere o uso no caso de paciente com SARA que, após aumento da FR para 35 irpm e liberação de volume corrente para 7 a 8mL/kg, mantém a hipercapnia.
Importante frisar que, embora haja tais sugestões de uso de BIC especificamente nesses cenários de acidose respiratória, não há evidências.
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Post elaborado por:
DR. LUCIANO AZEVEDO
Médico formado pela Universidade Federal da Paraíba, com residência médica em medicina interna e medicina intensiva pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1999). Doutor em ciências médicas pela Faculdade de Medicina da USP (2004).